#Felizdiadosnamorados: Sobre o (pseudo) romantismo nas redes sociais

por Nathalí Macedo

Esse doze de junho me serviu pra muito mais do que ver futebol e celebrar o amor. Ele me trouxe uma constatação que há muito tempo se aproximava, tímida, desse meu mar de incertezas: as pessoas ainda precisam provar o amor.

E não é provar a si mesmas – porque isso raramente conseguem – é provar aos outros. Como se parecer feliz fosse mais importante do que realmente sê-lo. As centenas de fotos no instagram dos presentes, do jantar, do vinho, das velas, da comida, das alianças – até selfie pós-sexo se tem inventado, se não me falha a memória – só nos mostram o quanto a relação do exibicionismo tem valorizado coisas sem nenhum valor e esquecido de cultivar aquilo que nos faz realmente felizes.

O amor e a felicidade viraram competição: quem tem a relação mais bonita, a aliança mais grossa, as rosas mais perfumadas? Quem tem o(a) namorado(a) mais cool e gentil e exibível nas redes sociais?

É que no Facebook todo mundo é feliz, bonito, seguro e realizado. Todo mundo tem o emprego dos sonhos, a relação perfeita e uma pele linda desde que se tenha um aplicativo de filtros ao alcance das mãos. Filtra-se a realidade pra vender ao outro uma vida, muitas vezes, inventada.

Não que uma foto de #amoreterno no facebook seja tão mal assim. Não mesmo. Aliás, acredite, eu adoro ver declarações de amor nas redes sociais – principalmente quando o amor é amor e isso é visível e contagiante. Não me refiro às declarações sinceras de amor, ao amor que transborda e que quer ser gritado pro mundo ouvir – porque esse amor, em certo ponto, me encanta. Refiro-me àquelas pessoas que correm atrás de uma mudança de status de relacionamento como se isso fosse mudar alguma coisa em suas vidas. Pra quem o amor se limita a uma tag bacana.

Fico me perguntando – com muito lamento, acredite – o que é felicidade de verdade pra essas pessoas. Se alguma vez elas já pararam pra desfrutar de um domingo preguiçoso ao lado de quem amam (sem fotos dos pés e do filme na TV LED, por favor). Se alguma vez elas já trocaram o look do dia por uma roupa confortável e foram a um restaurante comer, conversar e ser tão feliz a ponto de esquecer de fotografar.

Me pergunto se alguma dessas pessoas já provou uma noite realmente divertida. Onde a maquiagem pra sair bem na foto fosse uma preocupação secundária. Onde a liberdade de ser e deixar ser era a responsável pelos sorrisos sinceros.

É triste constatar a possibilidade de que as pessoas tenham simplesmente esquecido o que é o amor e o que é ser feliz. O que é que importa de verdade nessa vida. Triste pensar que existe alguém por aí que poderia ter vivido uma noite sensacional, mas se preocupou mais em mostrar aos outros que estava vivendo uma noite sensacional. E – ops! – esqueceu de viver. É triste ver que a vida tem ficado pra depois.

E que pessoas cheias de amor pra dar têm se cobrado coisas tão inúteis e superficiais. E que a declaração de amor no Facebook pode valer mais do que o bom dia de cara amassada com um presente simples e recheado de amor nas mãos.

Com toda a fé que nunca me faltou, eu espero que as próximas gerações reaprendam o valor das relações. Espero que, num futuro próximo, o mundo seja um lugar melhor do que este, cheio de infelicidade filtrada no Instagram. Espero que a próxima relação compreenda o mundo real, a felicidade real – tão real que não precisa ser exibida, é simplesmente vivida.

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