Um queria o momento, o outro uma razão a mais para estar aqui

Um queria colchão, o outro um colo pra dormir. Um queria o momento, o outro uma razão a mais para estar aqui. Um pensava que poderiam virar pro lado e nem se falar mais a qualquer momento. O outro imaginava que aquelas mensagens de madrugada de tesão e saudade já eram indícios de que algo bom estava acontecendo bem diante dos seus olhos. Um queria isto, o outro queria aquilo.

Agarravam-se pela manhã quando dormiam juntos. Quando não, um mandava mensagem de bom-dia, o outro pensava que poderia responder numa outra hora. Um contava as novidades, o outro devolvia com um “tá tudo bem”. Um se deixava arrastar por uma onda e surfava na maré da loucura de cultivar um carinho. O outro? Dividia o carinho com terceiras pessoas que também cultivavam essa coisa aí de querer bem alguém.

Na certeza do desencontro, ficou claro que um procurava uma figurinha brilhante e julgava a ter encontrado, enquanto o outro só buscava mesmo completar o álbum. Desalinhamento de expectativas, levadas até o primeiro cheiro de que tudo poderia por água abaixo quando, tentando fazer uma surpresa, um bateu na casa do outro às dez da noite de uma terça-feira qualquer e foi impedido de subir.

Ficar pra quê?

Exato. Foi a pergunta que reverberou na cabeça dos dois. Gostavam-se? Sem dúvida. Não se pode colocar em xeque o sentimento de um porque o outro quer mais. Na realidade, um não soube a hora certa de dizer o que queria exatamente e o outro foi presumindo o que os dois queriam. E nessa de não falar por algum medo de magoar o outro e tentar adivinhar que direção seguiriam, armaram armadilhas para si mesmos.

Esmaeceu-se o romance. Perdeu a cor. O viço. Um continuou sua saga de querer sempre mais e não querer parar nunca. O outro, decepcionado e julgando ter dedo podre e tino para sempre quebrar a cara, juntou os cacos e seguiu. E volta e meia ainda se ouve um assovio de mensagem com alguma mensagem de saudade. Não tiveram coragem, nenhum dos dois, de apagar o telefone um do outro.

Ficar pra quê?, mas quem sabe numa próxima viagem!?

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