Um pouquinho do clichê da vida

Hoje pela manhã fiquei olhando a lista de telefone do meu celular e procurando alguém para ligar, só para ouvir o clichê. Para ouvir que tudo vai dar certo, que as escolhas feitas pelo coração preenchem os sonhos e que as dificuldades aparecem e se dissipam como as dores da alma. A vida é clichê: continuar, sorrir, pensar, refletir, desistir, sonhar, ouvir, se desculpar… E ouvir o clichê acalma o pensar de quem quer que seja.

Infelizmente para chegar onde quero chegar tive que largar mão de algumas coisas. Não digo largar mão, mas alterar prioridades. Meu trabalho me suga muito e, como consequência, fico distante dos meus amigos e da minha família. Coisa que muito me dói, mas, não tive muitas opções. Sei que perdi alguns casamentos de amigos, algumas formaturas, alguns aniversários e até algumas namoradas – todas com razão. Escolhas. E por mais que eu me esforce para tentar ir em tudo e dar a devida atenção para quem merece, infelizmente, não consigo abraçar o mundo. E eu bem que queria.

Viajo bastante e, por mais que esteja repleto de pessoas ao meu lado, a solidão sempre é companheira. É difícil lidar com esse meu mundo, das opiniões alheias, da falta de compreensão de quem nem lhe conhece, das mídias oportunistas e mesmo assim conseguir continuar sendo simples e leve. É muita informação, é muita cobrança em cima de alguém tão normal como uma banana de feira, é muita responsabilidade e pressão. Ouvir tanta coisa, críticas, propostas, opiniões e mesmo assim manter o que a gente acha certo é coisa para poucos – espero um dia ter maturidade para. Trabalhar com o que se ama e transformar essas verdades e sonhos em qualidade de vida é uma conquista. Tudo isso de uma forma que os ideais continuem ali, não necessariamente intactos, mas sorridentes e esperançosos.

Confesso que, às vezes, depois de um dia de gravação ou de trabalho corrido, chego em casa de madrugada e fico quieto, sozinho. E, para me sentir menos só, abro a janela só para ouvir os carros passarem… Pois não há solidão que não precise sucumbir à uma televisão ligada ou um barulho de rua com gostinho de abraço.

Todos nós criamos uma rotina, simplesmente para nos apaziguar e, assim, não coabitarmos com a própria loucura. Pois a rotina é isso, um estado de pouco pensar e muito agir. E pensar demais é postergar os sonhos e suas realizações. Mas, volta e meia, quando paramos para pensar em que direção estamos dirigindo, as dúvidas nos invadem e questionam se o caminho que estamos seguindo é realmente o certo. Mas, só a gente sabe o mistério que é ser quem somos. De escolher o que escolhemos e arcar com os desafetos que acompanham as escolhas que fazemos. Não dá para sermos inteiramente certos das escolhas, nem preencher as expectativas de todos num pote que sempre haverá um pouco de frustração.

Espero um dia ler esse texto e saber que tudo que eu imaginei que iria conquistar foi concretizado. E se caso não acontecer, que eu não me arrependa das minhas escolhas. E também que eu sempre saiba admitir a mim as minhas fraquezas e lembrar que elas não poderão me dominar, mas, com certeza, me farão companhia até o fim.

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