Quem nunca foi cantado por uma tarada na rua?

A loja era uma dessas tipo Boticário. Logo na entrada estavam Bruna e Naty. Bruna com seu cigarro acesso, era um Lucky Strike vermelho. Naty ao celular; cabeça baixa e olhos atentos na inbox do seu Facebook.

– Naty, olha só o que vem vindo. Tá de picareta pra fora ainda por cima.

– Tô falando com o Tiago aqui. Ver se ele resolve liberar hoje depois do Japa. O cara ta me enrolando há dois meses já, meu.

– Nossa, menina. Larga esse cu doce e presta atenção no que vem vindo.

As duas passam a olhar agressivamente o pedreiro que se aproxima. Bruna dá uma cutucada de cotovelo na amiga.

– Nossa, eu dava fácil.

– Se um desse me fala ‘oi’, eu chupo até o pulmão fazer bico.

O pedreiro fica extremamente sem graça. Abaixa a cabeça e sai andando com sua ferramenta na mão. As duas caem na risada e Naty volta para o seu celular. Ali está a verdadeira chance, embora enrolada, de sexo. Mexer com caras na rua é apenas um modo de se auto-afirmar. Sem ao menos dar tempo para curtir uma publicação do Breno sem camisa, lá no fundo elas ouvem uma buzininha típica.

– Picolé, gelo, gelinho, sorvete de pote. Morango, limão, banan…

– Caralho, Naty, larga essa merda e olha lá.

– Que saco, Bru.

– Olha lá, criatura.

Ao se aproximar, o vendedor entende que ali há duas clientes em potencial.

– Sorvete pra refrescar, meninas?

– Tem sorvete de nabo, moço? – Pergunta maliciosamente Naty. O vendedor ri e responde:

– Não. Tem morango, limão, banan… – Bruna interrompe:

– Ela quer essa banana. Dá essa banana pra ela, dá. – Ambas amigas riem e deixam o vendedor sem graça. Ele dá duas buzinadinhas, agradece e sai pela tangente.

– Com licença, tenho que trabalhar. – E de longe ele ainda ouve um grito vindo de uma delas:

– Heey, tem de pepino, moreno?

O cigarro de Bruna acaba, mas a taradisse nunca. Antes de jogar a bituca no cinzeiro da calçada, elas avistam um engravatado cheio de estilo. Pasta na mão, cara de profissional imprescindível pra sociedade. Ao se aproximar ele nota que ambas estão olhando para ele com cara de quem não fodem há mais de mês. Ele aperta o passo, inicialmente não quer conflito. Seu sapato que batia no chão a 120 bpm, agora bate a 180.

– Hey, não corre não, loiro. Ninguém aqui vai te fazer mal não. Olhar não arranca pedaço, viu? – Esse é o momento em que ele cruza com elas, aparenta estar incomodado, mas nada fala. Naty se pronuncia:

– Oh, se você dormir lá em casa hoje, prometo que até te faço cafuné na nuca antes de tirar sua calça pra ver esse… – Ele imediatamente vira e grita com as mulheres apontando o dedo.

– Olha aqui, sua porca tarada. Se fosse seu pai ou seu irmão no meu lugar você iria gostar? Iria gostar de saber que seu marido está indo trabalhar e umas nojentas ficam mexendo com ele na rua? – As duas dão uma risadinha e não ligam muito para o incômodo do loiro engravatado.

– Ihhh, relaxa, Naty. Esse daí deve ser daqueles membros de grupos que tiram a roupa na Paulista pra protestar pelos direitos dos homens. É Sêmen o nome do grupo, né?

– Sei lá, esses caras não têm o que fazer? Ficar gritando pelos direitos dos homens? Já ganham igual a gente e agora querem o que mais? É falta de buceta isso.

– Certeza, amiga.

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