Pra ler e ouvir: “você se apaixonou pelos meus erros”

Descobri aos 25 que discordo das teorias sobre os relacionamentos que li até os 24. Psicólogos, psicoterapeutas, psiquiatras e todos os psicos me já disseram que o segredo dos relacionamentos está nas concordâncias – gostar das mesmas músicas, dos mesmos livros, dos mesmos passeios. Hoje, mais do que saber, eu sinto que não. O que nos faz felizes, meu amor, é exatamente o que nos faz diferentes.

Demorou, demorou muito – quase demais – para que eu percebesse que o seu gosto por ficção científica pode conviver com as minhas manias de gostar mesmo é da realidade. Quase estraguei tudo antes de ver a beleza da nossa estante com Dan Abnet e Nelson Rodrigues, antes de olhar para a sua melancolia e perceber que ela cabia exatamente onde está toda a minha mania de ver o lado bom de tudo. Eu que amo quebra-cabeças nunca tinha pensado que duas peças exatamente iguais não se encaixam e não ficam próximas. As diferentes, sim.

Como diz essa música, meu amor, “você se apaixonou pelos erros”. E o maior deles talvez tenha sido apostar em relacionamentos que confundiam semelhança com monotonia. Enquanto neles eu apostava todas as minhas fichas no “eu também”, encontrei a minha felicidade exatamente no seu “eu não”.

Nunca foi fácil justificar as suas ausências em ocasiões sociais. Talvez porque a minha mania de agradar todo mundo não combina com a sua personalidade forte e com a sua crença de que é melhor dizer que não está a fim e pronto. O mundo que entenda. O mundo que compreenda que quando esse medo de viver bate, nós queremos mesmo ficar na cama admirando a mesma obra de arte, o mesmo gato que hoje é nosso, o mesmo mapa que a vida colocou no seu peito por prever que eu sempre gostei de caças ao tesouro.

“O que não pode evitar e não se pode escolher”, não é? As nossas discordâncias fazem, sim, com que sejamos diferentes. Não conheço seus amigos dos games, você não conhece meus parceiros de samba. Faço um milhão de coisas com um milhão de pessoas e você tem no gato a companhia mais constante. Eu admiro a sua solidão e você a minha multidão.

Descobri aos 25 que a convivência entre o seu mundo e o meu é muito mais importante do que a fusão em um só universo. Assim eu posso te visitar, você pode me ensinar e a gente sempre fica com saudades, porque o outro é algo que não encontramos dentro de nós.

O que eu queria te dizer e os Engenheiros do Hawaii disseram:

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