Papo com a leitora: Ellen, a gravidez cedo e os aprendizados sendo mãe

Olá Fred, desde que comecei a ler as histórias das leitoras, comecei a pensar se talvez não pudesse mandar a minha. Nunca fui o tipo de guria que todos os garotos gostavam. E também de fato nem fazia questão disso. Na escola mesmo era do tipo que batia em qualquer um que fosse mais engraçadinho (isto acabou me dando uma fama gigantesca no colégio, eu era a aluna problemática). Isso sempre foi um jeito de me defender de tudo e de todos. Assim, acabava que minhas amizades nunca duravam. Sempre tive opiniões fortes e não gostava de ser contrariada. Talvez eu fosse mimada, confesso. Eu adorava filmes de terror e tudo que me deixasse com a adrenalina lá em cima (hoje mal consigo ver filme de ação quem dirá terror). Gostava de assistir futebol e até discutia sobre o assunto, hoje mal fico na frente da TV 5 minutos durante um jogo.

Eu dei meu primeiro beijo com 15 anos e olha que foi bem difícil, fui praticamente obrigada pelas minhas amigas. Nesta época descobri coisas e vi as pessoas se transformarem por causa das drogas. Eu nunca usei. Embora todo mundo acredite até hoje que usei alguma coisa. Eu me afastei daquelas amizades e me isolei no meu mundo. Da casa pro colégio, do colégio pra casa. Eu me vi vivendo uma vida que eu não queria. Não tinha emoção, eu não fazia nada. Então eu conheci um cara, ele era maravilhoso. Mas já tinha pegado geral. Eu não sei bem o que eu gostei nele e se gostei, acredito, às vezes, que tenha sido por carência. Este cara se tornou meu primeiro namorado. No começo foi lindo, admito que até acreditava naquele amor eterno. Até que fui morar com ele. Fiquei grávida. E foi aí que tudo começou. 

Eu sempre fui meio neurótica com minha aparência. A gravidez foi tranquila, mas quando a criança nasceu eu surtei. Me achava horrível, não queria ninguém perto de mim. E começamos a nos afastar cada vez mais. Até que um dia eu simplesmente fui embora enquanto ele dormia. Ele achou que eu fosse voltar, que eu precisava de um tempo sozinha. Mas eu nunca voltei. E nunca quis ele perto do meu filho. Ele nunca teve notícias minhas. Isto faz um ano e meio. Há algumas semanas ele me procurou, queria ver o filho e me ajudar. E ele diz pra mim que mudei muito. Mudei pois tomei muito na cara para criar um filho sozinha. Criei sozinha porque eu quis. Nunca precisei de ninguém. Mudei porque fui mãe nova. Hoje tenho pensamentos totalmente opostos aos de antes. Não me importo tanto com a minha aparência, digo que fiquei deformada com a gravidez, cheia de estrias, mas que tudo isso valeu a pena só de olhar meu filho sorrir e que ele adora apertar as gordurinhas da mãe dele.

Ninguém imagina como é reconfortante depois de um dia inteiro trabalhando chegar em casa e ver aquele sorriso lindo me esperando… Também sei que muita gente acha que joguei minha vida fora. Mas não concordo. Quando ele fez um ano e três meses fiz uma postagem no Facebook a respeito disto até. Mas de tudo valeu porque aprendi a ser mãe. As pessoas costumam julgar muito as outras sem saber o que leva elas a determinadas situações. Eu agradeço sempre por ter um tão filho maravilhoso. E por aprender, por uma única vez, a ter um amor incondicional por alguém. Aprendi que até um dentinho que nasce é motivo de festa. Como os primeiros passos são importantes e ver aqueles passos em tua direção pronto pra te dar um abraço ainda me faz chorar quando lembro. Assim como ainda lembro a primeira vez que olhei pra ele ainda na maternidade. Desde aquele momento minha vida se transformou. Cada nova conquista é comemorada como uma festa. Eu não me importo se nunca mais tive alguém depois da minha separação e eu nem penso em ter alguém, porque ter meu tempo gasto com meu filho é muito melhor do que gastar meu tempo em festa ou com namorados. Eles que esperem, eu não posso perder meu tempo valioso que tenho com meu filho, ele cresce muito rápido hehe. Mas eu dou o mesmo conselho pra todas as pessoas que convivem comigo. Não tenham filhos enquanto são novas. Eu sei que pode ser egoísmo da minha parte, mas é duro criar um filho. Tendo ou não pai e mãe presentes. Ninguém sabe o trabalho que é, e o gasto que é. Mas elas nunca escutam, é como dizem: se conselho fosse bom não se dava se vendia.

Obrigada Fred, beijos!

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Oi Ellen,

Antes de tudo, preciso te dizer que li a sua história como se conseguisse te imaginar vivendo cada momento e, como se te conhecesse, sentindo um pouco do seu medo.

Achei a sua história lindíssima de ser compartilhada e maravilhosa de ser lida. Não quero entrar no mérito dos anseios com seu corpo, nem do seu possível sumiço, até porque nem sei os exatos motivos. Muito menos conheço vocês. Mas, acredito que dar a oportunidade dele sentir a mesma alegria que você sente, seria algo engrandecedor para ambos.

De qualquer forma seja mãe, menina, mulher, mas nunca se esqueça de abrir-se ao mundo. És mulher, que tem como maior desafio: ser mulher. Do corpo meigo, pequeno, grande, desproporcional, bonito, diferente, confortável, assimétrico… Que inspira franqueza, do sorriso incessante, que cativa e por fim nos convence ser somente amor. Mulher afagadora das piores caídas de bicicleta, dos desvios dos pedaços de Lego pela casa, dos conselhos quase sempre certeiros, das cobranças ditas chatas, mas necessárias para um futuro notável. Mulher que sabe encantar e deixar ser encantada. Que orgulha-se dos seus dons, dos seus afazeres, das suas particularidades. Mulher que tem como raiz a sensibilidade. Das incertezas profundas, das certezas não assentidas, dos receios dobrados, do carinho incondicional.

Continue sendo o que és, mas sem medo do que o mundo lhe mostrou ser, as coisas vão passar e o teu coração – independente do assunto – irá se abrir pouco a pouco. Até porque as coisas acontecem, pois devem acontecer. E, mesmo se esse for somente um papo para nos apaziguar enquanto vida, que assim seja… Continue com esse amor pelo teu filho, mas, não se esqueça que o mundo tem uma competência enorme em saber distribuir a nós momentos de alegria e tristeza. Não se esqueça de se abrir ao mundo também, ele te espera…

Vou te dar um presente. Essa é uma música que gosto bastante, é diferente, italiana, mas a essência é linda. Sinta a música, pois, somente ouvi-la não é o suficiente.

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Se você quiser enviar suas histórias, seja engraçada, surpreendente, bonita, triste, sexual, de amor, envie para: [email protected] com o título “Papo com a leitora: + Título” e um breve resumo da história antes do texto. Ah, e se tiver mande imagens. Queeeeeeem sabe essa ideia não pega? Ihaaaa

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