O Rolezinho não é coitadinho

Em relação ao “rolezinho”, o que a esquerda está fazendo não é melhor do que a direita faz. Ambos tratam os participantes do rolezinho não como seres humanos, mas como massa de manobra retórica para defender seu posicionamento político.

Para a direita, são criminosos, baderneiros dignos de punição, que ameaçam a segurança daqueles cidadãos de bem que se aquartelaram em shoppings centers para poderem fazer suas compras. Já para a esquerda, são injustiçados que querem protestar contra a discriminação da periferia, atacando a ilusão consumista da classe média.

Direita e esquerda utilizam-se do rolezinho para defender suas posições políticas. A direita é mais explícita em sua estupidez. Mas a da esquerda é mais insidiosa em seu oportunismo, pois acredita estar defendendo as pessoas da periferia, quando na verdade apenas as utiliza para defender suas pretensões ideológicas.

Já está claro que os participantes do rolezinho não estão ali motivados por nenhuma inspiração de esquerda. Ao contrário, basta visitar os perfis dos organizadores do rolezinho na internet para constatarmos que eles cultuam as marcas que estão a venda nos shoppings centers. Não são contrários ao capitalismo. Só consegue ver no rolezinho uma manifestação política quem escolhe uma retórica que vitimiza os seres humanos, que se arroga saber mais sobre o comportamento de indivíduos do que eles próprios sabem, como se fossem “coitadinhos” cujos atos precisam ser interpretados e tutelados pela esquerda.

A direita também é míope, ao vitimizar a classe média e ao vilanizar todos os participantes do rolezinho como baderneiros. Afinal, são todos eles baderneiros e merecem o enquadramento policial ou a maioria paga por aquilo que fez uma pequena minoria, somente porque compartilham com eles da mesma cor de pele? Se há depredação ou agressão, a polícia não pode se omitir, mas deve ser criteriosa em apenas agir contra aqueles que são responsáveis pela depredação e agressão, e exclusivamente contra esses.

Chega de acreditarmos nas balelas da direita e da esquerda, que interpretam todas as notícias como lhes convêm, amealhando em suas redes de pescador todos os fatos sociais como se fossem peixes. Chega de politizarmos todos os fenômenos sociais, de vilanizarmos de um lado a classe média e de outro a periferia. Não há massas de manobras, não há peixes para pescar – há seres humanos, no centro ou na periferia.

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