O embaçar de um vidro

Por mim eu te chupava ali mesmo. Sem eufemismos. Sem frescuras ou meias palavras. Com as mãos dissipadas pelo teu corpo eu apertava com maestria tua coxa pelo lado de dentro, lugar onde, eu sentia, que você adorava mordidas e beijos arrastados. Sem dó eu deslizava com barba e boca nos teus ombros e organizava estratégias para que aquela despretensiosa alça de sutiã resvalasse naqueles braços que eu tanto acariciava com firmeza e brandura.

Com os vidros fechados e bocas abertas brincávamos de amores e desamores na porta da sua casa. Ao som raso do rádio, até o Djavan dizia para você decidir se dava ou não. E na cimeira daquela intensidade eu confessava entre beijos e fôlegos que não queria que você fosse embora, até porque o vidro ainda nem tinha embaçado…

Você me beijava como louca, respirava ofegante, tirava o cabelo da boca e deixava todo aquele pescoço desabrigado. Se contorcia entre bancos e cintos. Sentia o volume e quando a música ficava boa trocava a estação. Eu não conseguia lidar com isso. Sem receios da aparição de alguém eu te olhava com aquela cara de injustiça ao dizer-te com os olhos aflitos que não se deve esfregar a lâmpada se não quer ver o gênio. Com brincos ao chão você me deixou ali, repleto de cabelos e vontades, sorrindo para o meu próprio zíper.

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