O amor miserável

Caminhando entre minhas amizades e seus, volta e meia efêmeros amores, observo como eles pouco sabem sobre o amor e suas variáveis. Vivem apequenados em suas amarras, repletos de ciúmes bobos, orgulhos infantis, argumentos incoerentes e amores que variam de tonalidade e intensidade entre a aurora e a alvorada.

Entre algumas conversas de bares e bandeiras hasteadas nas redes sociais, observo os mesmos argumentos e a mesma cegueira social. Descartam a realidade presente e; amam, discutem e sofrem como adolescentes e amadores. Como se aquilo não fosse uma constante na vida de todos. Esperneiam e dizem viver intensamente, se entregam com voracidade e jogam, ali, todas frustrações das próprias expectativas. E assim, de boca cheia, dizem em alto e bom som que se entregaram demais, como se a intensidade fosse uma muleta para os próprios sofrimentos e suas respectivas escolhas.

Observo-os como crianças, que brincam com fogo e quando se queimam, queixam-se como se não soubessem dos efeitos da brincadeira que optaram, por vontade própria, brincar. Como uma questão matemática, poucos se doam a entender as questões distribuídas pela vida, e só se preocupam com o resultado, que por incrível que pareça, pouco importa. O recheio do aprendizado está nas entrelinhas do entender e questionar-se. Do querer saber mais e não limitar-se à máxima de que o amor é somente o ato de dividir lençóis e beijos, nem sempre, molhados.

Dessa forma romantizam a realidade e criam inverdades sobre as expectativas que os outros devem honrar. Como se existisse uma regra, um estereótipo sentimental, onde a mensuração desse sentimento só se determinaria completo com certos dizeres e certas convenções impostas pela sociedade, tudo isso como se a felicidade tivesse caminho, e palavras, certas.

Mas, será que eles sabem tanto amar, pela leveza e ingenuidade de viver esses amores irresponsáveis e mesquinhos, ou será que o real saber amar é tão complexo que merece ser guardado e deslindado somente para venturas de poucos?

Aprendi com certo tempo de leituras intrínsecas, amores empíricos, viagens mundanas e solidão comedida que o intelecto atrapalha a leveza e serenidade do amor e da vida. É gostoso ser ingênuo. É gostoso não ter senso crítico sobre as camadas profundas do amor. É gostoso, e confortante, achar que o amor é somente um te amo proferido de bocas tão miseráveis como as nossas. Bocas essas, miseráveis, que nos servem para exprimir a mentira e a verdade quando nos for conveniente.

Amores vividos entre outonos e verões precisam de uma pitada de ignorância, por mais antagônico que seja. Uma ignorância sonhadora e esperançosa na possibilidade de realmente existir um amor que se assemelhe às nossas expectativas, convenhamos, tão utópicas.

Por fim, admito que a ignorância parcial sempre será uma benção para viver-se leve e apaziguado nessas varandas de amores febris.

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