O amor e outras drogas

Eu sou uma pessoa comum. Tenho aflições comuns e anseios normais como qualquer bancário ou advogado. Vivo atrasado como qualquer motoboy e, vez em quando, sou paciente como médicos em noites de plantão. Sofro pelo amor como uma manicure em TPM ou juiz de futebol em dias de final de campeonato. E morro de medo – como uma criança vendo filme de terror – de um dia você enjoar da minha presença.

Sou fascinado por músicas francesas e por meninas de saias longas. Apequeno meus olhos já pequenos quando fumo cannabis. E adoro chocolates com refrigerante. Adoro quebrar paradigmas. Circulo entre o que sou e o que dizem ser. Ouço Beatles e Sandy&Jr. Admiro o Matanza, mas também bato palma para o Forfun. Leio Fernando Pessoa e malho pesado na academia. Tenho aparência de marginal, mas me derreto todo ao brincar com as crianças. Sou recheado de tatuagens, mas escrevo poesias. Falo palavrões aos berros, mas, também, faço declarações puras ao pé do ouvido. Sorrio do mundo e tenho recíproca. Sorrio ao mundo e amo a vida. Digo besteiras demais quando fico acordado até tarde. E acordo de mau humor quando é muito cedo – que pode ser sete da manhã ou duas da tarde. Mas se recebo um sol ou um cafuné de bom-dia, a vida me parece uma eterna gargalhada alucinógena.

Quando vou te ver, nunca sei se coloco o tênis cano alto ou vou de chinelo mesmo tentando parecer qualquer falso despretensioso que acha normal alguém como você rir das piadas sem graça de um cara como eu. Mas por dentro, entre meus órgãos e pensamentos, tudo está em transe como um daqueles loucos da bolsa de valores em dias de queda da Nasdaq.

Mas sei ser sereno, também, quando teus olhos me acalmam como uma tarde em Itapuã ou como nas vezes que você me coloca em teus braços e me transporta para o melhor spa que já inventaram: o teu colo. Ali, pareço um drogado no auge do relaxamento entorpecido pelos teus carinhos.

Aí percebo que, talvez, o amor – aquele verdadeiro que não foge na primeira discussão, que entende as lágrimas femininas sem motivo aparente e que perdoa o estresse masculino com coisas fúteis – seja a droga mais procurada do mundo. A maconha boa é aquela direto da planta, sem alterações. A cocaína boa é aquela fina e branca, se possível, direto da Colômbia. Uísque bom é tomado no copo baixo, sem gelo, apenas uma boa dose de Jack Daniels ou afins. E o amor bom é aquele puro, sem adulterações ou farsas. Aquele que sai direto do peito e do fundo da alma.

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