4 músicas da Amy Winehouse que mostram o seu delicioso contraponto

Eu lembro bem onde estava quando ouvi Amy Winehouse pela primeira vez. Não quando tocou Rehab e eu me irritei com as pessoas cantando aquele insuportável “no, no, no”. Mas quando ouvi Love is a Losing Game e chorei vertiginosamente sentada ao volante numa tarde há uns cinco ou seis anos. Tinha sol, estava frio e eu não consegui arrancar o carro parado num sinal. Ela dizia “why do I wish I’d never played” e eu não sabia se queria voltar no tempo para não ter entrado no jogo ou para viver de novo os lances anteriores à derrota.

Amy viveu pouco demais para a obra que construiria se ainda estivesse aqui. Mas tempo suficiente para se tornar um mito. Prova disso é que nesta semana, em que se completam três anos sem ela, o mundo parou novamente para reverenciar a voz que sobrepôs o comportamento: mesmo bêbada e com condições vocais nada favoráveis, ninguém conseguia explicar de onde vinha aquela explosão no microfone.

Claro, tivemos anti-heróis na música antes dela. Mas talvez nenhum tivesse sido tão surreal – e duramente verossímil. Amy contou para o mundo que sofria de amor. Não saiu dos palcos mesmo que os tombos (no literal sentido, em alguns momentos) tenham sido grandes. Não escondeu, não se afastou.

Há quem diga que ela não tenha ficado suficientemente sã para decidir sobre os curtos rumos da sua carreira. Eu prefiro crer que é preciso mesmo muita coragem para seguir (mesmo que nem sempre em pé) encarando uma plateia e uma crítica que veem fragilidade como fraqueza. Amy não foi fraca.

Torço para que Amy seja lembrada como alguém que encarou os olhos do mundo com indiferença sobre o que pensariam dela, já que os ouvidos jamais poderiam negar que ali estava uma voz que jamais calaria.

Não sei explicar porque, mesmo com tão poucas canções na minha setlist, Amy tenha sido tão marcante em tantos momentos. Talvez porque, assim como ela me fez não conseguir sair do lugar ao cantar “love is a fate resigned”, tenha me dado coragem para revirar outros amores e lençóis cantando “you know I’m no good”. Contraponto era mesmo o forte de Amy Winehouse e continua sendo de todos os amores.

“Self professed profound, till the chips were down. Know you’re a gambling man. Love is a losing hand”

“Run around just so I don’t have to think about thinking”

“Ah can I play myself again? Or should I just be my own best friend? Not fuck myself in the head with stupid men”

“I cheated myself like I knew I would. I told you I was trouble. You know that I’m no good”

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