Se apaixonando por Nova York

Nova York te trata mal, é convencida e neva frieza, é uma cidade curiosamente audível em sua própria incomunicabilidade. Posso ouvir os loucos que falam sozinhos, aos montes, pelo metrô, posso ouvir o jazz decadente das calçadas e alguém próximo falando a minha língua. Nova York é tão brasileira. Nova York é lugar de nunca enjoar de ver esquilos vira-latas, de comer bagel com cream-cheese no café da manhã e perguntar pra moça da perfumaria qual astro de Hollywood ela já atendeu.

E que tal uma lanchonete que de tão convencida vende só batata frita? Dizem que são as melhores do mundo devido ao preparo com óleo especial, e junto delas, alguma variedade de molhos para acompanhar,  experimente ir a “Pomme Frites” mas tenham paciência com a fila.

Tudo acontece em Saint Marks Place, a rua em que o ID entra em êxtase, rua de passar dos limites, rua que tem brechó oriental de roupas obscenas com vendedor fedido e carismático, rua de tomar Milk Shake de Óreo olhando gente estranha passar.

Quinta feira, das 19h as 21h, é dia do “New Museum” não cobrar. O “New” é um museu menos conhecido, com novidades e lampejos dos artistas de agora. E em Nova York é assim: quase todo museu tem dia de entrada franca, de olhar sem pagar. E bobo de quem nunca pegou o ferry gratuito para ir a State Island no fim de tarde pra ver a estátua dar tchau, e ver Manhattan acender tomando raspadinha de Coca-Cola da Seven Eleven.

Fotos, muitas. As fotos proibidas que tiramos teimosos dentro dos musicais da Broadway. Fotos dos mil e um casamentos, e de cenário, um tal parque clichê. Noivos orientais trocando juras fotográficas de amor. Os clichês valem a pena: o Central Park nos beija com suas românticas folhas secas, de várias três cores. Lindo nublado, lindo com sol, lindo pra se perder de propósito.

Nova York é engraçada porque tem gente elegante e tem gente que acha que é elegante. É terra das portas giratórias em hotéis imponentes e de gente que fica preso nelas. Das pechinchas na Forever 21, e de pisar no Big Piano. Lugar de paisagens incompletas e prédios por terminar, de verdes caóticos e das neuras de Woody Allen. Carros, charretes, gente com pressa, olhares consumidos, pessoas que se confundem entre os amarelos dos taxis.

Tem a publicidade em estágio canibal. Placas chamativas disputando o nosso olhar: aproveite cada LED, se ilumine da Times Square, o metrô não fecha, em Nova York ninguém vira abóbora a meia noite. Não deixe nada escapar, afinal você nunca volta para a Nova York de antes, Nova York é uma noiva em fuga, é sempre hoje, amanhã já é ex.

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