Mulheres que você deveria conhecer: Érika Lust, uma diretora de filmes pornôs voltados para mulher

por Eduardo Benesi

Erika Lust é sueca, formada em Ciências Políticas com ênfase em feminismo, mas seu ganha- pão vem da produção de filmes pornográficos diferenciados. A diretora possui uma produtora pornô, a “Lust films”, voltada para filmes feministas, que visam a excitação da mulher e isso se reflete na escolha dos ângulos que capturam as performances sexuais ou na escolha das situações narrativas que envolvem as cenas.

A diretora considera o sexo uma questão política, afirma que os filmes pornôs educam as pessoas sexualmente, e há um claro domínio de nuances misóginas na indústria comum e para reverter um pouco disso, Erika comunica sua ideologia por meio de uma luxúria orientada, de caráter “slow food” e não gosta de apelar para o “hardcore” quando cria alguma história. Acredita que o mercado pornô, funciona por uma dinâmica “fast-food”, visa apenas o gozo masculino, quando poderia estimular um diálogo sobre fantasia sexual, emoção, ou satisfação. Parte do princípio de que a excitação pode ser criada em situações simples e cotidianas, e evita cenas muito mirabolantes, foge do pornô “coxinha” que, geralmente, assume uma face temática específica, mas, posteriormente, tropeça no conteúdo da história, que em sua opinião é sempre clichê e previsível.

Seus filmes possuem características dissonantes ao falocentrismo  – que se caracteriza por um conjunto de posturas baseadas na superioridade masculina – da indústria convencional, existe uma preocupação estética com luz, direção de arte, trilha, fotografia e figurinos, são filmes feitos para serem vistos até o fim, inclusive depois do orgasmo. A escolha dos atores é propositalmente pautada em pessoas com traços mais comuns e sutis, menos exagerados, e na hora de dirigir tenta ao máximo com que o elenco faça um sexo parecido com o real, sem vícios forçados do padrão pornográfico. Sua obra ironiza a infidelidade masculina, enfatiza o domínio da mulher na hora da transa, e passeia sem compromisso do sexo casual ao romântico. Erika também adota formatos mais rápidos, inclusive curtas-metragens, acha que filmes muito longos são cansativos e não condizem com o tempo das relações sexuais.

Na Escandinávia, Érika é tida como uma “Bombshell”: um estilo de mulher que ascende midiaticamente através de alguma questão relacionada à sensualidade geralmente atrelada a algum outro talento. Erika defende que a pornografia é um item oculto culturalmente, mas que é de grande importância, já que é um modelo de reprodução usado pelos jovens na vida comum. Sua escolha de casting – escolha de elenco – é feita em cima de pessoas que amam a sexualidade, que gostam de se explorar e não pessoas drogadas, com desajustes de infância, ou que estão ali porque não tiveram alternativa financeira, ou que entram no ramo como forma de semi-prostituição; acha que esses tipos de atores alienam o espectador, que passa a olhá-los apenas como objetos.

O orçamento padrão de seus filmes gira em torno de 100 mil euros, e eles geralmente são produzidos em Barcelona, onde fica a sua produtora. O tempo médio de produção de um longa é o mesmo de uma gestação, e segundo Érika, cada um deles passa por uma espécie de gravidez, em vários aspectos. Além dos filmes, a diretora também escreve – possui quatro livros de ficção e quatro de não ficção -, é dona de uma boutique erótica, de um cinema pornô on-line que reúne o melhor do Indie-Porn, além de investir na produção de brinquedos pornôs de design aeroespacial.

Confira o trailer dos dois últimos filmes de Erika:

https://www.youtube.com/watch?v=QGxm3PtKx-c

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