Morde essa boca de novo para ver só

Em geral você encanta sorrindo de canto, meio tímida mas certa do que quer. Escorregadia, desvia o olhar e confunde para onde meus olhos devem se focar. Sabe muito bem me controlar. Mistura meus sentidos e ora me faz pensar que está me querendo, outra mantém distância sabendo que vou querer ficar por perto.

Enquanto solta palavras nas quais acompanho devagar, ergue os braços e reveza a prisão dos cabelos entre um rabo de cavalo e uma divisão imprecisa atrás das orelhas. Perco a razão da conversa te assistindo ser quem você é.

E quando a gente se encontra?
Te vejo caminhar em câmera lenta tipo nos filmes. Me pego pensando no quanto demorou para escolher a roupa, imaginando se já sabia qual usaria na hora que te convidei para sair ou se levou um tempo para definir quais peças te fariam companhia. O engraçado é que te vejo arrumada mas imagino como suas roupas ficariam tão melhores desarrumadas ao lado da minha cama de manhã. Mas eu não te conto.

Quando chega mais perto, percebo a dificuldade que é para mim te cumprimentar e sair ileso diante do seu perfume que me convida para morar em seu pescoço. Coloco meu coração bem perto do seu e esfrego meus dedos devagar nas suas costas. Passeio carinhosamente sem pressa para acabar.

É impressionante como você me impressiona sem querer me impressionar, pois é basicamente pelo jeito que você é que eu perco o meu. É pelo som da sua risada, pela escolha do colar e pelo jeito gente-como-gente escolhendo a pipoca grande no cinema que eu fico tentado a saber um pouco mais de você.

Escorrego minha mão na sua ao caminhar dando um sinal para te mostrar onde elas devem ficar. Vai que você acredita comigo? Na escada rolante, divido os pés colocando um no degrau de cima e outro no debaixo, atrás de você que, por sua vez, vira para mim e distribui sorrisos e tapas no meu ombro com as minhas piadas sem graça e provocações sobre o que a gente poderia fazer depois.

Só que esse depois ainda não chegou e por isso eu fico curtindo suas fotos com vontade de curtir seus beijos. Bem que dizem que o melhor ainda está por vir e, devoto do otimismo como sou, sigo arquitetando planos para te mostrar que se for para tirar o sorriso do rosto, que seja com um beijo meu, se for para tirar a roupa que seja com a minha boca e, se for para tirar o seu ar que seja com a nossa noite. Morde essa boca de novo para ver só.

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