Estou vivo, mas não tenho vivido

Já é noite, meus músculos aparentam ter carregado todo o peso do mundo, mas a única coisa que fiz hoje foi pensar. Nunca havia me dado conta do tanto de esforço que é se deixar dominar pela voz dos pensamentos. É tão intenso e perturbador quanto qualquer trabalho braçal que force a coluna cervical, os ossos, as entranhas da gente.

Durante o dia que quase se vai, estive vivo, mas não vivi. Vegetei. Pensei. Fiz contas. Refiz. Vi as margens de erro. Revi. Pensei em desistir. Em ir em frente. Em dar meia volta. Em me esconder debaixo da cama, das cobertas, do colo da minha mãe, dos braços do meu amor, mas não fui capaz de dar sequer um passo. Não saí do lugar. Nem na evolução de pensamentos, nem na coragem que me faltou para agir diante das decisões.

Queria mesmo ter poderes mágicos ou uma receita pronta para encarar esses dias da vida nos quais precisamos decidir coisas que, de certo, mudarão todo o nosso destino. Todo o roteiro da nossa história. Mas a única coisa que tenho, de fato, nas mãos, é o medo de nada dar certo e de carregar a culpa das más escolhas de hoje até o dia de perder a memória.

Queria, de verdade, fazer as pazes com o futuro. Porque sinto que é isso que me trava o presente. Eu não sou capaz de me permitir desfrutar do agora porque me sinto testado a todo o momento. Testado a dar o meu melhor, testado a fazer a coisa certa, testado a não cometer erros. É como se o mundo inteiro estivesse assistindo a final de um jogo e alguém fosse dar o último saque, tentar a última bola de três pontos, o último gol, a última tacada. Como se durante o dia inteiro só me restassem alguns segundos para mostrar que sou capaz e mereço ser feliz.

Durante o dia que quase se vai, estive vivo, mas não vivi. Pelo menos não tenho esses registros em minhas memórias. Quando me lembro da hora que acordei, me lembro do que estava pensando no instante que o despertador tocou. Quase me esqueço o que almocei, mas me lembro da preocupação da hora do almoço. Não sei ao certo que horas cheguei em casa, mas lembro qual pulga atrás na orelha chegou comigo.

Eu só queria fazer as pazes com as preocupações, com o medo de não dar certo, com o pavor de ser infeliz amanhã. Eu só queria ser como essa gente que não tem medo ou não se arrepende de nada, que topa tudo, que não fica chorando por besteira, que faz piada de si, que não se aborrece, entristece ou se deixa abater por coisas que nem sequer aconteceram. Eu só queria ser alguém que existe vinte e quatro horas por dia e não dorme por medo de não acordar amanhã e ter motivos para sorrir.

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3 comentários abaixo sobre Estou vivo, mas não tenho vivido

  • Crush Tube disse:

    São exatamente 02:11 da madrugada,escutando
    “Can we Kiss Forever” e estou pensando no sentido da vida.
    E sinceramente acho que ele não existe.Sabe o que mais me dói pensar,e que um dia eu vou morre e com o passar dos anos vai ser como se eu não estivesse existido.
    Não importa o que você fez ou não pessoas boas ou ruins nao somos nada simplismesnte um pequeno ponto preto em uma folha em branco sem fim…
    Por que a vida é assim?
    Sabe a aquela vontade de fazer alguma coisa sem poder,acompanhado com uma forte dor e angústia que te faz querer puxar seus cabelos com toda a sua força. Suas pernas incomodando querendo correr no meio da noite.
    A vontade de rasgar a sua garganta gritando e perguntando porque.
    Com o seu coração apertado e sua respiração ofegante.
    Pedindo para morrer mas com medo de abandonar as pessoas que você já conheceu ou que queria conhecer das coisas que você já fez ou que gostaria de fazer.
    Porcaria de classe social, e você que nos prende nesse mundo, onde temos limitações.
    Todos deveríamos ser feliz a vida é tão curta e o tempo também não ajuda. que áááááááááááááááá que RAIVA…. :( :( :( :( :( ;( .

  • Rafael Pereira dos santos disse:

    Não entendi porque a nossa historia e e fracaso derrota e não conquistas e fe