Estado de espírito: sei lá

Estou feliz, calmo e vazio. Me ocupo lavando colheres de madeira com resquícios de inovações culinárias, caminhadas esporádicas pelo parque no fim de tarde e livros até tempos atrás empoeirados por baixo do meu cotidiano repleto de mais do mesmo. Coloco músicas e escuto-as como se conversassem comigo, abraço a minha presença nos espelhos de casa e até arrisco sorrir com filmes que nunca veria se o fim não fosse daquele jeito. Não o fim do filme, claro.

Quando falo em vazio algumas pessoas questionam-se como se ele fosse um semelhante à solidão, mas não, eu chamo esse vazio de uma construção necessária. É como se fosse um estagiário, e o seu chefe durante essa semana, fosse o tempo, o destino e a crença apaziguante na existência deles.

Então digamos que se existisse um estado de espírito denominado sei lá, ali eu estaria. Entre o sei e o lá. Mais para o lá, do que para o sei. Até porque eu nem quero saber, eu só quero ficar lá. Pelo menos por agora. Lá onde caminho em busca de cinemas pedintes de casacos, pipocas misturadas e pessoas sentadas em poltronas sozinhas. Lá onde, volta e meia, sinto uma vontade de um carinho e um beijo com gosto de comida quase pronta, mas conscientizo-me ser uma fase. Lá onde eu sossego, evito satisfações e beijo as belezas frias que caminham rente a mim durante a rua. Lá onde o disparar feliz sou eu.

E hoje fico assim: com gosto de sei, mas sentimento de lá.

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