Ela não enxerga o óbvio nesse relacionamento

Ela era boba, boba, boba. E burra, burra, burra. E na real, eu me via bastante nela. Porque já ocupei o mesmo lugar. Compaixão por ela (ou por mim?). Estava claro: ele só pensaria nela quando a solidão fizesse o seu trabalho ou, quem sabe, depois do álcool destrambelhar o discernimento, como fazia com todos que o abraçam. Cagava e andava como cavalo e ela, a estradinha de terra suja disso tudo.

Mas ele dizia. Dizia coisas, sabe? Dizia que ela. Ela isso. Ela aquilo. Ela, ela, ela. Parecia até sinceridade para os que espiavam de canto de olho sentados às mesas do mesmo bar. Parecia tanta coisa. Talvez até fosse, enquanto durassem aquelas horas. Mas pra ela era muito. Era tanto. Tudo tão conturbado e verdadeiro. Pra ele, quem é ela mesmo? Ah! Tá.

Deixou de frequentar as festas em que ela poderia estar, colocando em risco amizades antigas. Negou o nome dela para qualquer um que apertasse um pouco mais a curiosidade pela história. Fingiu que não a viu. Algumas vezes. Enrolou, enrolou, enrolou; do jeito mais babaca: prometer, prometer, prometer. Só verbo. E ela pensando “mais atitude, por favor”. E sem retorno, ela mesma botava seus passos à frente para esbarrar com ele nas esquinas do bairro, teatralizando despretensão, coisa que só não desmascaram os que não querem. Ela não gosta de ser a garota da fila à espera de alguma coisa, mesmo que a coisa não se importe com ela. Coitada. Coitada. Coitada.

Eu a odeio a ponto de querer esbugalhar seus olhos com a pressão das minhas mãos atacando seu pescoço. Quero matar tudo isso dentro dela. Quero… Quero proteger essa menina do mal que ela mesma se faz. Se a realidade é tão óbvia, pra mim, pra ele, pra todo mundo, porque só ela não enxerga a porra toda? Porque é boba, boba, boba. E muita burra, descontroladamente burra, romanticamente burra.

O coração dela só vê poesia e história, como o meu via. Se eu pudesse voltar atrás e impedi-la de se enjaular na fantasia dessa imaturidade emocional… Se eu pudesse. Mas então, o que ela entenderia do amor, das pancadas que ele dá? E eu não teria nada para passar pra ela, nada pra dizer, nenhum alerta. Deixa ela viver, vai.

Vai ser bom se foder. Até que vai ser bom. E quem sabe, algum dia, ele crie solas de plumas para aprender a pisar em terrenos movediços como o dele. Quem sabe um dia, ela aprenda a amar o que vê no espelho.  

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