E depois da conquista?

Muito se fala sobre como conquistar alguém, sobre como conseguir viver um amor de cinema. Muitas listas e textos são escritos sobre como fazer alguém se apaixonar ou sobre como se comportar durante a fase da conquista. A fase “pré-conquista”, vamos chamar assim, é amplamente alardeada e inspira de maneira contumaz textos, poemas, músicas. Mas e depois? Como diz um ditado russo que eu acabei de inventar, ensinar a caçar urso é o de menos, o difícil é ensinar a levar um animal de mais de trezentos quilos pra casa. Por favor, não vejam o meu ditado russo antigo como machismo nem nada, foi só uma analogia mesmo. E não que conquistar seja fácil, – quem me dera se assim o fosse – mas manter é muito mais difícil.

Quando a fase da conquista termina e o relacionamento enfim começa, acontece um fenômeno que, na verdade, é uma via de mão dupla. É comum acharmos que a combinação de vários ingredientes que adoramos vai dar uma boa combinação. Como diria o Verissimo, Ledo e Ivo engano. Nada mais longe da realidade. A combinação das características que você simplesmente amava naquela pessoa incrível pode ser bombástica. Separadas, elas são encantadoras, mas juntas, algumas características podem não ser lá tão encantadoras assim. E esse primeiro baque faz muita gente desistir. Mas, para a nossa sorte, este fenômeno também tem o outro lado.

Me parece um erro clássico – que eu, inclusive, já cometi diversas vezes – é analisar individualmente as características do outro que nos incomoda. Assim como no exemplo anterior deste mesmo fenômeno, devemos tentar analisar o todo. Eu não como fermento. Nem comeria farinha pura, tampouco engoliria três ovos misturados com manteiga. Mas eu adoro bolo de chocolate. Eu entendo que é difícil entender que ingredientes que, individualmente, nos causam tanta repulsa, possam resultar em uma combinação agradável. Nem sempre resultam. Mas esta talvez seja a melhor maneira de se encarar um relacionamento. Tentar entender que ninguém é um depositário de defeitos que devem ser riscados da sua lista, mas sim uma mistura de defeitos e qualidades, e, a partir daí sim, analisarmos o todo.

Como diz o ditado russo que eu inventei: caçar um urso é o de menos, levá-lo pra casa é que são elas. Fazer um relacionamento dar certo é entender que ninguém – nem a pessoa, nem você – é só aquele lindo estereótipo perfeito de quando vocês só flertavam. Ela não sabia que você imitava o Hulk no seu escritório quando falava sozinho. Você não sabia que ela tinha a discografia completa dos Los Hermanos – e sabia as letras de cor. Mas, depois que começa o “e foram felizes para sempre”, é hora de tentar juntar a discografia dos Los Hermanos com o apoio incondicional que ela te dá. É hora dela juntar sua voz de Hulk com o carinho e o incentivo que você dedica a ela. E se você pensou em cortar o urso em pedaços para poder leva-lo embora, acredite, nenhum relacionamento resiste quando cortado em pedaços bons e pedaços ruins. A única saída é levar o bichão nas costas. E se você fizer isso, uma hora você vai perceber que ele é mais leve do que parecia.

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