Desde que eu me entendo por gente…

Ouço com graciosidade esse tipo de comentário, pois a pessoa fala com certo orgulho sobre o tipo de pessoa que se tornou. Ela confia em sua história pessoal e nem de longe desconfia que o fato de ser de do seu jeito há muito tempo só reafirma o fato de que foi criada de um jeito pelos seus pais e que nada mudou. E mesmo isso não a define.

Se você tem entre 15 e 25 anos será que pode ter certeza que fez escolhas pensadas, refletidas e livremente escolhidas de verdade? Ou só foi acrescentando camadas de escolhas automáticas do seu passado?

Nessa fase da vida você pode não gostar de saber, mas corre o grande risco de ainda é um aglomerado de sua cultura e da combinação da personalidade dos pais e amiguinhos do jardim da infância. Se quiser faça o teste, coloque em um papel suas características marcantes e depois faça uma lista igual para seus pais e amigos. Vai descobrir incríveis “coincidências”. No consultório testemunho diariamente pessoas que se desencantam consigo mesmas ao descobrirem que agem exatamente como seus pais sendo que até então se achavam super modernas e únicas.

A maior parte das pessoas ainda não assumiu plenamente as rédeas de sua personalidade vivem reproduzindo comportamentos desde que eram pequenas sem o menor senso crítico de que seus cérebros já evoluiram e não estão submetidas ao chinelo dos pais. Ter personalidade forte ou ser tristonho pode ser apenas reflexo de um contexto desfavorável e está longe de ser o ideal.

De forma geral as pessoas que se orgulham de sempre terem sido do jeito que são se baseiam em certo tradicionalismo, como se seguissem uma linhagem imperial. Nunca se questionaram que são apenas reprodutoras de comportamentos automáticos, reproduziram versões 2.0 dos seus pais e que sofreram pouca metamorfose real.

Quando me reencontrei com alguns familiares que não via há tempos eles afirmaram: “como você está diferente em todos os sentidos, nem parece mais aquele de antes”. Algumas pessoas se sentiriam confusas ou traidoras de si mesmas, mas confesso que enchi o peito e me orgulhei, afinal, não preciso ser o mesmo só porque sempre fui.

Então se você azeda maus hábitos “desde que se entende por gente”, deixe seu ego murchar um pouco e pense com carinho no tipo de pessoa que quer ser daqui alguns anos, coloque a mão na massa e invente sua nova vida futura. Sempre há tempo para grandes transformações.

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2 comentários abaixo sobre Desde que eu me entendo por gente…

  • Lázaro F. Silva disse:

    Perdão, mas não e nunca foi este o sentido da expressão! Apenas faz referência à sua lembrança mais antiga sobre o fato. Tens razão, obvio, se a lembrança de tal fato interfere prejudicialmente na sua vida. Cabe a cada um, analisar, resolver ou dar seguimento à tal lembrança.
    Tenho que fazer “siesta”, cochilar depois do almoço. Desde que eu me entendo por gente, sempre dormi pouco a noite.

  • Lucas Marques disse:

    que texto lindo e verdadeiro! Sucesso