Amor é cotidiano – Um diálogo sobre a não importância de casar

Ouvi dizer: agora, eu sou casado, sou um rapaz sério. Numa outra conversa, vi uma pequena encher a boca para falar: eu parei com essa vida de rua, agora, eu casei. Aos padres, pastores e juízes, sinto lhes dizer: casamento não importa nada. O casamento, aquela festa bonita e cara, chata – vez em quando – não importa nada. As roupas chiques, os cabelos penteados, os sobrinhos perfumados não importam nada. Os bolos com quatorze andares, os docinhos engordativos e o teu tio bêbado no meio da pista de dança, também, não importam nada – tudo bem, que teu tio bêbado vale umas risadas e risadas importam.

Mas fora o luxo e as fotografias espontaneamente falsas, o casamento – aquele evento – é mero detalhe. Casamento começa na primeira entrelaçada de mãos quando o casal mal sabia que o outro odeia chocolate quente com açúcar e que o um sofre até hoje com a morte de seu primeiro cachorro chamado Muggy. Ou naquele primeiro beijo que fulaninho não fazia ideia de que fulaninha goza quando ele mete mais rápido.

Casamento é a comemoração do amor. E o amor, meus caros, é cotidiano.

Cansei de ver cerimônias com noivos repetindo frases de outrem, sem sal, sem amor, sem quentura de uma declaração bonita. O brilho, perdido nas luzes espalhadas pelo altar e pelas joias expostas, tem que estar nos olhos do casal, nas mãos trêmulas e nas palavras sinceras (até as repetidas).

Casamento é união das pessoas. É a celebração de uma relação e, não a salvação dela. O compromisso (que possui nome estranho, mas vale muito mais do que casamento) é o que importa nisso tudo. E quando você pede um beijo, um colo, uns meses, umas décadas e uns filhos para alguém, você está a pedindo em casamento.

Quando eu falo em casamento, eu não digo em morar juntos. Morar juntos vai além de qualquer coisa e, hoje em dia, as pessoas se juntam por motivos quaisquer – uns filmes até mais tarde, tua casa é mais aconchegante, esqueci minha calcinha aqui e eu gosto da tua TV. Morar juntos, pra mim, é o exercício mais profundo de uma relação. O casamento (a festa ), nada tem a ver com isso.

Quando você diz: mô-fica-comigo-durante-o-fim-de-semana, você fala em casamento, em eternidade falsa, nessas coisas. O casamento é construído dia após dia. Com brigas, reconciliações, iogurtes lights e passeio aos domingos. O nome disso – namoro, ficantes, noivos ou casados – não importa. O que vale mesmo são as mãos entrelaçadas dividindo sorvetes, camas e vidas. Pessoas realmente sérias sabem disso.

Comentar sobre Amor é cotidiano – Um diálogo sobre a não importância de casar